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Hoje a nossa amiga bananeira está vestida com tons brancos, adornos gentilmente cedidos, temporariamente pelas senhoras da vizinhança moradoras da rua São Raimundo.
Enquanto eu escrevia esse post uma moradora de uma outra rua estava falando sobre o enorme cacho de banana, que segundo ela, está na rua, ou próximo demais do muro da calçada…
Diariamente algumas vizinhas minhas, moradoras da rua São Raimundo no bairro do Atalaia em Ananindeua/Belém, estendem grandes peças de tecido para secar ao sol, pois algumas casas daqui quase não tem quintal, aqui as construções e as reformas e ampliações das casas acabaram engolindo as pequenas áreas de quintais. Este terreno que acolhe esta frondosa bananeira é uma das poucas áreas sem construção e pertence a um amigo meu que há anos mudou-se para um outro Estado, em busca de melhores oportunidades.
Era um grade amigo que nos anos de 1990 e 2001 cantava nos vocais de boas e saudosas bandas de hardcore de Belém, hoje ele vive no Estado de Goiás, tem família e é religioso. E o terreno, este, que foi palco e abrigo de muitas brincadeiras durante as tardes de minha infância e adolescência está sendo vendido devido as demandas financeiras e desemprego dos tempos atuais. Talvez daqui a algum tempo não teremos mais espaço pra ver essas grandes redes e lençóis estendidos ali nas tardes quentes de um verão amazônico. Esta é a segunda foto de uma série de registros e relatos sobre este terreno, esta bananeira e as cercas que as separam da sede voraz que as pessoas urbanas tem por espaço, falta de espaço essa provocada por elas mesmas.
Enquanto um lençol esta caindo ao chão uma bandeira do Brasil tremula ao vento e ao sol de um verão amazônico.
Quarto registro da série da ausência de alguns quintais e a resistência desse terreno com essa bananeira urbana.

Mais uma vez enquanto eu fazia esse post, um vizinho ao lado de casa comentou algo sobre o enorme cacho de bananas da árvore.
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Hoje a cerca que separa o terreno e a bananeira dos moradores ávidos por mais espaços do que já tem, está ocupada pela minha irmã, que assim como eu, “seria” filha adotiva de um estivador, Raimundo, atualmente aposentado e de Antônia (in memoriam), dona de casa e com história de várias profissões no passado: de prostituta, dona de bar em Tucuruí e em Ananindeua/Belém, e finalmente a dona de casa que faleceu devido a vários problemas de saúde, inclusive infecção generalizada nos seus últimos momentos de vida.

A história da dona desse tapete de cor azul escura que está estendido como companhia do dia da nossa personagem bananeira urbana, é história de alguém que apesar de ter se apropriado sozinha (sem meu apoio e consentimento) de uma grande casa na rua São Raimundo, moradia essa que, teoricamente deveria ser herança compartilhada entre os poucos membros da nossa “família”, e está sendo reformada, modificada e ampliada pela minha irmã e meu pai. Acabando assim com todos os espaços de terreno livre e quintal da casa. Se tornando mais uma usuária da cerca e muro desse terreno, com árvores frutíferas, ao qual tenho contado aqui a história desse e dos vizinhos.
Nem só de panos longos e compridos vive vestida a nossa amiga bananeira urbana, aqui os trajes que estenderam na cerca que separa o terreno da bananeira a rua, são vestimentas que os vizinhos usam para sair enquanto a bananeira fica ali plantada em seu lar.

Hoje lhes trago imagens em formatos horizontais da tela, pois gostaria que observassem a pequena imagem a sua esquerda, é a imagem de um grande sofá estofado no meio da calçada talvez secando ao sol, este sofá pertence a D. Márcia, moradora aqui da rua São Raimundo, ela e filha de D. Miroca, uma das moradoras que mais estende roupas na cerca da bananeira.

D.Márcia, a dona do sofá, está reformando e ampliando a sua casa, a casa que antes tinha uma área livre na frente, onde os proprietários sentavam para conversar apreciando as tardes, hoje estão a tornando uma garagem fechada para uma moto que pertence ao genro de D.Márcia que trabalha na polícia.

Infelizmente não posso fotografar a reforma da tal casa, pois tenho medo de ser visto e mau interpretado. Esta casa onde mora este enorme sofá e que no momento está sendo reconfigurada, também não tem quintal e por isso só resta a calçada para este enorme sofá ‘pegar sol’ nas manhãs de intenso verão amazônico.
Este é Jacó e seu pitbull, morador da rua São Raimundo, vive em uma enorme casa sem área de quintal. Tem família grande e inclusive é irmão de um juiz, talvez por esse motivo durante a noite Jacó leva seu pitbull para sujar a área externa da frente da casa dos seus vizinhos mais próximos, mas durante a manhã ao sair para comprar ração ele prefere trazer seu cachorro a esta calçada para que a bananeira testemunhe sua falta de educação, falta de higiene e arrogância.

Estes dias não tivemos roupas estendidas no murro que separa a bananeira urbana de alguns de seus vizinhos imundos, talvez pelo clima nublado que estamos presenciando esses dias.
Enquanto não chove, a bananeira vê, ou sente, a vida passar na rua São Raimundo com uma toalha vermelha estendida em seu muro.
Depois de uns dias sem postar nada sobre esse projeto, retorno hoje com essa imagem desse grande tecido sobre a cerca que divide esse terreno da rua são Raimundo e moradoras desse terreno que são as árvores que por enquanto ali habitam. O que me chama a atenção hoje foi o que está estampado nesse tecido, são ideogramas de idiomas asiáticos que talvez estejam escritos coisas como: paz, amor, saúde… mas o que deveria está escrito ali também deveria ser a palavra TEMPO…
Depois de um longo período sem postar algo sobre as narrativas cotidianas desse terreno vazio que está a venda na rua São Raimundo no bairro do Atalaia/Castanheira. Retorno hoje com esse registo da vizinha que mora em frente a esse terreno e é a pessoa que ocupa com mais frequência a cerca e muro desse terreno, que por enquanto só está sendo a moradia dessas lindas e frondosas bananeiras, as quais já foras testemunhas de diversas histórias do cotidiano dessa rua.

Essa senhora na foto é D. Altamira, mais conhecida como D. Miroca, que tem uma enorme casa na rua São Raimundo e que também ajudou suas filhas e filhos a adquirir vários imóveis nessa mesma rua, todos esses imóveis sem nenhuma área de quintal. D. Miroca foi uma das primeiras moradoras dessa rua, quando há mais de 40 anos ganhou uma casa dada por político que costuma desapropriar terrenos para lotear e dar para a prováveis fiéis eleitores e colocar seu nome nesses loteamentos.

D. Miroca costuma contar as histórias de quando essa rua estava começando a ser povoada, quando aqui existiam dezenas de enormes terrenos e algumas poucas casas com grandes quintais. D. Miroca foi funcionária de escolas públicas trabalhando como merendeira (funcionárias que preparavam e serviam merenda nas escolas) ao se aposentar foi dona de bar e de uma enorme aparelhagem de som nos anos de 1990 e anos 2001. Brilhante, era o nome da aparelhagem que tinham seu esposo e seus filhos que trabalhavam nos finais de semana com o ‘Brilhante’.

Sr. Rodrigues Pantoja (in memoriam) era o esposo de D.Miroca e o patriarca da família, ele foi funcionário da COSANPA, quando minha família mudou para a casa ao lado da casa deles. Ele e sua esposa já eram aposentados dos seus respectivos empregos. Essa senhora que mora nesse populoso bairro de Ananindeua hoje é evangélica e só tem vontade de voltar a morar em um interior em uma casa com um grande quintal para viver com tranquilidade sua aposentaria.

Queridxs, despeço-me com esse último post sobre essas bananeiras e suas moradia que é esse terreno que pertence a amigo meu que foi integrante e vocalista de algumas bandas de hardcore de Belém, atualmente e mórmon e mora em Goiás com sua sua esposa e filhos.
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